terça-feira, 13 de julho de 2010

Resistência e apego a métodos tradicionais

Paulo Freire, condenando o ensino oferecido na maioria das escolas que era caracterizado por uma educação bancária, alienante, acomodada, desenvolveu um pensamento pedagógico que objetivava conscientizar os alunos, desenvolver a criticidade, inquietá-los.
Semelhante a esse pensamento, foram os momentos e atividades que procurei propor aos alunos durante o período de estágio, promovendo a inquietação, a problematização, a criticidade, a conscientização, a autonomia e o movimento investigativo.
Adotando esse mesmo pensamento pedagógico, durante um dos primeiros encontros realizados com a turma, no período em que estava realizando sondagens e diagnósticos da turma, antes de iniciar o Projeto de Aprendizagem, certa noite, levei os alunos a ludoteca da escola para trabalharmos a matemática com material concreto. A idéia era que jogassem em grupos o jogo “Nunca dez”, cujos objetivos eram de que os alunos construíssem o significado do sistema de numeração decimal explorando situações-problema que envolvessem contagem, além de compreenderem e fazer uso do valor posicional dos algarismos. A turma foi dividida em dois grupos, cada grupo recebeu um kit do material dourado e dois dados comuns, o jogo consistia no seguinte: cada aluno, na sua vez de jogar, lançava os dados, contava quantos pontos havia feito e retirava para si a quantidade de cubos pequenos correspondente aos números sorteados nos dados, sempre que um jogador acumulasse um total de 10 cubos pequenos, deveria trocá-los por uma barra, e teria o direito de jogar novamente, sendo que o vencedor seria o primeiro a conquistar uma placa, trocando 10 barras por ela. Os alunos não estavam descontraídos, queriam voltar à sala de aula para realizarem um outro tipo de atividade, mais tradicional e que envolvesse escrita. Finalizamos a atividade e ao retornarmos a sala de aula, conversei com os alunos, questionando-os sobre suas atitudes. Percebi que o problema não era apenas o de estar em um local que não fosse a sala de aula, ou estar jogando, e sim que a matemática parece estar em segundo plano para eles. Como de costume, não conversaram muito, parece que sempre esperam que alguém fale por eles. Expliquei que não deveriam ficar angustiados, e que aquele tipo de atividade faria com que aprendessem certas coisas que necessitam, que não deveriam pensar que brincando, jogando não se aprende. E também que aprenderiam a ler e escrever com a matemática, pois carregam uma angústia pelo fato de não saberem ler e escrever e apostam tudo nos momentos em que estão em sala de aula, colocando de lado tudo o que julgam desnecessário para a aprendizagem da leitura e escrita. Naquele momento os alunos começaram a rir e se soltar e confirmaram que achavam que estavam perdendo tempo e que a maneira de aprender era utilizando o quadro, giz, lápis e caderno. O diálogo foi interessante. Combinamos que aos poucos, iríamos trabalhar matemática e de uma forma diferente da conhecida por eles. A atitude dos alunos deu início a reflexões que me acompanharam durante todo o período de estágio: Como trabalhar matemática com a minha turma ?; Porque da falta de interesse por parte dos alunos, tendo em vista o fato da matemática fazer parte do dia a dia de todas as pessoas ? ; Como diminuir esse apego que os alunos tem do método tradicional ?
Penso que a utilização do material concreto, permite que o aluno se torne agente ativo na construção de seu próprio conhecimento, pois, através da visualização, manipulação, observação e criação de hipóteses, poderá estabelecer relações entre as situações experienciadas e a abstração dos conceitos estudados. Além disso, com o uso do material concreto, o aluno pode visualizar a operação realizada e também voltar a estágios anteriores de raciocínio, tarefa essa, muito mais difícil de ser realizada apenas no cálculo abstrato. Além de tornar as aulas mais interativas, a utilização do material concreto incentiva a busca, o interesse, a curiosidade e o espírito de investigação, a descoberta de soluções, enfim, viabiliza a aprendizagem, construindo/reconstruindo e ampliando significados matemáticos.

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