segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A escola como instituição pública, sua organização e gestão




A escola é a instituição que a sociedade criou para transmitir às novas gerações o conhecimento sistematizado. É o lugar onde, por princípio, é veiculado o conhecimento que a sociedade julga necessário transmitir. Ela não pode ser pensada como um elemento separado da sociedade, e sim, uma instituição social, no conjunto das instituições necessárias à vida. Desta forma, a escola necessita estar em ligação permanente com o seu entorno, para cumprir sua função social. A falta de comunicação afasta a escola do cumprimento de sua função.
Sendo a escola, co-responsável pela promoção do desenvolvimento do cidadão, cabe a ela definir-se pelo tipo de cidadão que deseja formar, de acordo com a sua visão de sociedade, cabe-lhe também, a incumbência de definir as mudanças que julga necessário fazer na sociedade, através das mãos do cidadão que irá formar. Porém, para que haja este desenvolvimento do cidadão, bem como as mudanças necessárias à serem realizadas na sociedade, é necessário que haja cooperação entre família e escola, uma vez que ambas são pontos de sustentação do ser humano, buscam o mesmo objetivo e exercem funções que se completam.
Através da Gestão Democrática, que escola, sociedade e família serão articuladas, desenvolvendo a função social da escola, com as especificidades e demandas da comunidade. É por meio da Gestão Democrática que a escola abre seus muros, mostrando o que está sendo feito, socializando as conquistas e dificuldades, conquistando a educação num sentido mais amplo, mostrando à família e à sociedade, a importância deste trabalho conjunto. Porém, ela se apresenta como um grande desafio, uma vez que conta com a participação efetiva de todos na tomada de decisões, e com um grande número de pessoas, temos conseqüentemente, um maior número de idéias e opiniões, dificultando a conciliação dos diferentes pontos de vista. Desta forma, para termos êxito nesse processo, algumas ferramentas são essenciais para que a escola possa atingir seu objetivo, uma que podemos destacar é o Projeto Político Pedagógico, que deve ser elaborado, realizado e avaliado pelo coletivo da escola, pois deve representar idéias, objetivos, metas, seqüência de ações (de autoria da comunidade escolar - professores, alunos, funcionários, pais, comunidade do entorno), que irão orientar toda a ação da escola, nas dimensões da gestão financeira, pedagógica, administrativa e jurídica. Cada Projeto tem um determinado contexto histórico. Precisa ser flexível e prever regulares avaliações e reformulações. Através de sua construção, a escola pode indicar a direção que perseguirá, a organização do seu trabalho educativo, bem como explicitar seus principais problemas, propor soluções e definir responsabilidades coletivas e individuais na superação desses problemas. Outra ferramenta que é necessária nesse processo é o Regimento Escolar, pois, levando em consideração que toda organização deve possuir um conjunto de normas e regras que regulem a sua atividade, impondo limites, estabelecendo direitos e deveres, é necessário que a instituição “escola”, também possua um instrumento que reúna suas normas regimentais básicas, descrevendo as regras de funcionamento da instituição e para a convivência das pessoas que nela atuam.
Diante do supracitado, podemos concluir que, para a escola cumprir sua tarefa, além da necessidade de implementação de processos e práticas coletivas na sua organização, faz-se necessário a utilização de ferramentas norteadoras do processo de Gestão, como o Projeto Político Pedagógico e o Regimento Escolar, bem como a cooperação da família. E que a qualidade da educação, não depende apenas de uma Gestão Democrática, mas de um planejamento participativo e de um Projeto Pedagógico eficiente e contextualizado com a realidade da escola e seu entorno.
Analisando o descrito acima e refletindo à cerca de minhas experiências nas três escolas que atuei, gostaria de ressaltar alguns aspectos. O primeiro que, infelizmente, a escola herdou uma certa posição fundamental, imposta pela sociedade, difícil de ser eximida. Muitos pais se omitem da responsabilidade em educar seus filhos, deixando tudo sob responsabilidade da escola. Já não mandam mais o aluno para a escola, e sim o filho, como se fosse a escola que tivesse o gerado! Educar é uma tarefa cooperativa ! A interação entre família e escola deve ocorrer regularmente e não ser reduzida apenas a reuniões formais e contatos rápidos. É fundamental que a família esteja em sintonia com a vivência escolar e social de seus filhos, pois essa integração tende a enriquecer e facilitar o desempenho escolar da criança. É impossível colocar à parte escola, família e sociedade, pois, se o indivíduo é aluno, filho e cidadão, ao mesmo tempo, a tarefa de ensinar não compete apenas à escola. O sucesso da tarefa da escola depende da colaboração familiar ativa. Nas escolas em que atuei, a primeira reunião do ano era a que mais podíamos contar com a participação dos pais, porém mesmo assim, não eram todos os pais que participavam. Parece que entravam o ano querendo começar diferente, mais participativos e no decorrer dos dias letivos se afastavam, vindo ou muitas vezes mandando uma pessoa qualquer para buscar o boletim, uma vez a cada bimestre.
O segundo aspecto é o da importância do Projeto Político Pedagógico ser o resultado de uma construção coletiva e da qualidade conseguida ao longo do processo de sua elaboração, uma vez que ele somente se constituirá em referência para as ações educativas se os sujeitos da comunidade escolar se reconhecerem nela, para referendá-la como tal. Na escola particular, onde atuei como professora, não tinha conhecimento sobre Projeto Político Pedagógico, porém, as decisões importantes eram tomadas em reuniões de pais e professores. Já na escola municipal, enquanto professora, não tinha o conhecimento da existência de PPP, porém, quando assumi a direção, tendo a liberdade de estudar a parte burocrática da escola, pude comprovar a inexistência do mesmo, sendo que imediatamente, reuni o grupo de professores e orientadora educacional para discutirmos a necessidade de uma gestão democrática, bem como a elaboração de um PPP.
O terceiro aspecto, diz respeito à dificuldade encontrada para a execução de todo esse processo, pois, muitas vezes, tanto Regimento Escolar, quanto Projeto Político Pedagógico e até mesmo a Gestão Democrática, existem nas escolas, meramente para cumprirem um dispositivo legal, pelo fato da comunidade escolar não perceber essa autonomia como um investimento na qualidade da educação, devendo ser acompanhada, no dia a dia, por uma cultura de responsabilidade partilhada.
Enfim, existem muitos desafios para envolver, articular e promover a ação de pessoas nos processos democráticos. É necessário aprimorar muito ainda a relação entre escola e comunidade. A mudança nesta relação requer que a escola seja reconhecida não apenas como uma instituição voltada para a transmissão do conhecimento sistematizado às novas gerações, mas sim como importante espaço de convivência humana que depende de ações coletivas !

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