terça-feira, 3 de novembro de 2009

Educação de Jovens e Adultos - A chave para o século

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última década do século XX - 1991/2000, a taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade caiu de 20,1% para 13,6 % . Essa queda continua sendo percebida ao longo dos primeiros anos do século XXI, chegando a 11,8% em 2002. No entanto, apesar dessa redução, o país ainda tem um total de 14,6 milhões de pessoas analfabetas. Essa ausência de escolarização faz com que essas pessoas enfrentem muitas dificuldades como a independência em relação aos filhos, companheiros e amigos em atividades simples como abrir uma conta bancária, escrever uma carta, ler uma placa com nome de rua, etc. A educação, nos dias de hoje, é indispensável para o exercício da cidadania, ela é mais que um direito, ela é a chave para o século e a educação de jovens e adultos serve de reentrada no sistema educacional aos que tiveram uma interrupção forçada pela repetência, evasão ou outras condições adversas.
Conforme Marta Kohl de Oliveira, no texto Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem, os alunos da EJA são geralmente adultos, migrantes de áreas rurais, filhos de trabalhadores rurais, com baixo nível de instrução escolar, algumas vezes apresentando uma passagem curta pela escola, que vem ao encontro das escolas com o intuito de alfabetizar-se e ou cursar algumas séries do ensino supletivo, bem como, jovens, que encontram na EJA, a possibilidade de reinserção escolar, pelo fato de terem se afastado dos estudos pela necessidade de um trabalho precoce ou por sua exclusão do sistema regular de ensino, ocasionada por reprovações, embora esses, geralmente são incorporados aos cursos supletivos em fases mais adiantadas da escolaridade, desta forma, com mais chances de concluírem o ensino fundamental, uma vez que apresentam-se mais ligados ao mundo urbano, são mais envolvidos em atividades de trabalho e lazer e mais relacionados com a sociedade letrada.
Discordando um pouco do pensamento da autora, apesar de ter pouca experiência em EJA, penso que, no passado o número de estudantes oriundos da zona rural era maior e que atualmente essa modalidade de ensino apresenta em sua maioria, jovens com defasagem em idade/série interessados em uma aceleração de estudos, tendo em vista que anteriormente sua passagem pela escola foi breve, malsucedida e com poucas aprendizagens relevantes. Penso que o número de jovens e adolescentes que freqüentam essa modalidade de ensino cresce a cada ano, modificando as características das classes de EJA, o seu cotidiano e as relações que se estabelecem entre os sujeitos que encontram-se nestes espaços, embora ainda possamos encontrar adultos oriundos de áreas rurais e pessoas da terceira idade.
Segundo a autora, os índices de evasão e repetência nos programas de educação de jovens e adultos são altos e isso é o resultado de questões como a falta de sintonia entre a escola e os alunos que dela servem, além dos fatores socioeconômicos que muitas vezes impedem que os alunos dediquem-se plenamente nesses programas e pelo fato da escola funcionar com base em regras específicas e com uma linguagem particular que acaba servindo como obstáculo àqueles que não a conhecem !
Concordo com a autora, e penso que a falta de sintonia é uma das razões que mais ocasiona a evasão. Muitas vezes os jovens e adultos deixam a escola pelo fato dela não vir ao encontro de suas necessidades ! Os educadores precisam criar dinâmicas e desenvolver metodologias capazes de tornarem a aprendizagem significativa aos alunos de modo que seus interesses sejam atingidos, apesar de que, essa tarefa não é nada fácil, pois, geralmente as turmas de EJA são compostas por dois perfis de alunos, como mencionado anteriormente: adultos migrantes de zona rural e adolescentes urbanos. O primeiro grupo, bastante lento, com uma representação de escola bastante tradicional e com estratégias de resolução de problemas diferentes do outro perfil que compõe essa modalidade de ensino, adolescentes urbanos, que tiveram acesso a uma escola, mas viveram experiências de insucesso e exclusão, interessam-se meramente pela aquisição de um certificado, enxergando a escola como um lugar de passagem e não de conhecimento, enfim, perfis muito diferentes em uma única sala de aula ! Além disso, os fatores sócioeconômicos tem um grande peso, pois, geralmente os alunos da EJA são trabalhadores que estão situados nos postos de maior desgaste físico, enfrentam muitas dificuldades para chegar à escola, pois dependem dos precários serviços de transporte, dispõem de pouco tempo para a sua formação e o cansaço do seu dia-a-dia também é um limitante significativo ! Outro motivo dos altos índices de evasão e repetência nas classes de EJA é realmente o fato da escola funcionar com base em regras específicas e com uma linguagem própria ! A escola precisa se adaptar para ter condições de atender a este grupo que não é o “alvo original” da instituição, como a autora refere. Os currículos, métodos de ensino e programas devem ser adaptados aos alunos da EJA.
Enfim, para que tenhamos êxito nessa modalidade de ensino, é necessário que a escola entre em sintonia com esta clientela, que os currículos, métodos de ensino e programas sejam adaptados aos alunos da EJA, que haja flexibilidade curricular, através do aproveitamento das experiências e visões do educando, como fonte de elaboração e reelaboração de conhecimentos.

Um comentário:

celilutz1 disse...

Olá Ana Cristina:
Gostei da tua postagem. Parabéns pela quantidade e qualidade das informações e das reflexões que trazes sobre o tema EJA. Daria um ótimo PA. O que achas? Penso que um dos fatores que contribuem para que mais jovens e adultos procurem a EJA é a necessidade das empresas terem que apresentar um perfil de funcionário com maior nível de escolaridade, que é um dos indicadores considerados para a obtenção de selos de qualidade. Não tenho, no entanto, nenhum dado relativo a essa questão.
Será que teria como conseguir alguma evidência para a tua colocação “penso que, no passado o número de estudantes oriundos da zona rural era maior e que atualmente essa modalidade de ensino apresenta em sua maioria, jovens com defasagem em idade/série interessados em uma aceleração de estudos”? Qual será o perfil dos alunos da EJA no município de Sapiranga?
Grande abraço.
Celi