Oito semanas de estágio, 25 noites de efetivo contato com os alunos, muitas experiências e reflexões, que levam a conclusão de que, promover com sucesso a alfabetização de alunos jovens e adultos e superar o analfabetismo são desafios que requerem muita atenção, cuidados e dedicação.
Inicialmente o educador precisa imergir na realidade a qual está atuando. Cada aluno é protagonista de histórias reais, valores éticos e morais formados a partir da experiência, do ambiente e da realidade cultural em que está inserido. São homens e mulheres com crenças e valores já constituídos, com históricos escolares, ritmos de aprendizagens e estruturas de pensamento completamente distintos. Pessoas que, geralmente apresentam características bem marcantes como baixa auto-estima e sentimentos de insegurança e de desvalorização pessoal frente aos novos desafios que se impõem, o que exige uma certa postura do educador para que situações de fracasso escolar não ocorram, promovendo a evasão escolar.
Frente a isto, um de meus maiores cuidados foi o de jamais propor algo que afastasse os alunos da escola. E confesso que executar o estágio conforme a UFRGS nos ensinou e solicita é bastante complicado, pois, por mais simples que pareça, provocar uma discussão e dela tirar um tema, assunto que seja de interesse, para realizar com a minha turma foi muito, muito difícil e desgastante. Como não estava atuando em sala de aula e não conhecia os alunos, suas histórias e curiosidades, utilizei os primeiros encontros para conhecê-los, fazer registros sobre suas realidades, curiosidades, interesses e expectativas. Quando iniciei as atividades, imaginava que seria muito mais fácil alfabetizar adultos do que crianças, e pensava também que seria bem simples construir um Projeto de Aprendizagem com eles, com o passar do tempo, percebi que estava muito enganada, pois, apesar de os alunos serem esforçados, terem mais experiências de vida do que as crianças, eles não são participativos, tem vergonha de se expôr, preferem ficar em silêncio e isso dificultou muito a construção de nosso Projeto de Aprendizagem. A primeira tentativa foi após as atividades da 18 º Feira do Livro de Sapiranga. No espetáculo Tangos e Tragédias existe o país Esbórnia, o qual tivemos a oportunidade de conhecê-lo durante a Feira, introduzi o assunto com os alunos e esperava que eles apresentassem durante o diálogo alguma curiosidade sobre o nosso mundo, país, estado, cidade, ou bairro. Apenas me disseram, durante o diálogo que queriam aprender "Matemática", "Ler" e "Escrever". Tentei incentivá-los elencando alguns temas, porém, não apresentaram curiosidades, não participaram do diálogo, ficaram mudos, fiquei muito frustrada, então, como não podia desistir, combinei que após o intervalo conversaríamos mais sobre o assunto e solicitei que pensassem a respeito. Após o intervalo comentei com eles que a turma da professora Kelli, que também é estagiária da UFRGS, havia escolhido o assunto (furacões). Pensei que surgiria algum tema, porém isso não ocorreu. Saí muito frustrada aquela noite da escola e pensei que não conseguiria encontrar uma saída. Passado alguns dias, para promover a segunda tentativa de iniciar um P.A. com a turma, apresentei aos alunos imagens variadas no Power Point (Planeta Terra, Sistema Solar, Água, Terremoto, Vulcão, Tornado, Animais diversos, Corpo Humano, Alimentos, Poluição, Natureza...) e perguntei individualmente aos alunos em relação as fotos que vimos, quais as nossas curiosidades a respeito desses assuntos, qual assunto que gostaríamos de trabalhar. Apesar da pouca participação e de muita insistência minha, conversamos sobre os assuntos e realizamos uma votação, sendo que o assunto escolhido foi MEIO AMBIENTE. Iniciados os trabalhos, percebi que não poderia aprofundar muito o assunto com os alunos, que o tema deveria ser simplificado ao máximo, desta forma, o caminho do P.A. foi o seguinte: compreender o que é meio ambiente, o que faz parte dele, qual a situação do meio ambiente, como devemos agir para termos um meio ambiente melhor. Embora o assunto seja interessante e eu tenha tomado todos os cuidados para simplificar ao máximo, afastando a idéia de uma desistência na turma, percebi que para eles, realmente o mais importante é conhecer as letras, ler e escrever, independente do assunto, tanto é que, foi muito difícil escolhê-lo. Se quisesse trabalhar as letras soltas, para eles, estaria tudo bem. Até mesmo a matemática, solicitada por um aluno, não parece ser tão importante para eles, mesmo percebendo que não reconhecem os números e não sabem calcular. Senti muita resistência no início, quando apresentava alguma atividade de matemática, sendo que precisei inseri-la aos poucos. Hoje, os alunos gostam das atividades de matemática e percebem sua importância.
Voltando ao assunto do P.A. nesta segunda-feira 07/06/2010, irei propor aos alunos a conclusão do texto em grupo, iniciado no laboratório de informática sobre o que aprendemos até o momento, para registrarmos em nosso P.A. Pretendo elaborar um mapa conceitual e perceber se é de interesse dos alunos continuar o assunto meio ambiente ou se desejam iniciar um novo P.A. Caso queiram continuar, temos muito assunto ainda, Morro Ferrabraz, por exemplo, caso contrário, finalizaremos o P.A., e iremos em busca de novos assuntos de interesse.
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