sábado, 4 de dezembro de 2010

Epistemologia Genética

Visitando as interdisciplinas do eixo 6, reencontrei um texto sobre Epistemologia Genética, de Jean Piaget.
Emilia Ferreiro, promoveu a continuidade do trabalho de Jean Piaget, sobre a epistemologia genética. Para ela, a construção do conhecimento da leitura e escrita tem uma lógica individual, sendo que até o indivíduo se apossar do código lingüístico e dominá-lo ele passa por um processo de avanços e recuos. De acordo com as idéias da teoria exposta em Psicogênese da Língua escrita, toda criança passa por quatro fases até que esteja alfabetizada. Os adultos também passam por essas hipóteses de escrita, ou níveis são eles:
Nível pré-silábico: Neste nível a criança ou o adulto não descobriu ainda o que a escrita representa, não estabelece relação entre fala e escrita. Como conhece algumas letras, principalmente as do seu nome, tenta juntar aleatoriamente essas letras, se solicitado a escrever do seu jeito alguma palavra. Quando criança, o sujeito utiliza diferentes formas de representação (garatujas, desenhos, números) para escrever. Há uma grande variação de caracteres. Pode acontecer que o tamanho maior ou menor do objeto corresponda ao tamanho maior ou menor da palavra. Exemplo: ao escrever a palavra BOI, pensa no tamanho do animal, por isso, escreve a palavra com muitas letras, se for escrever a palavra formiguinha, colocará poucas letras na sua escrita.
Nível silábico: Chega à hipótese de que a escrita representa a fala. Neste nível a criança ou o adulto relaciona grafia e sons, de maneira que representa cada sílaba (som) por meio de uma letra. No nível silábico primitivo, ela representa a sílaba com qualquer letra, é aleatório. Quando alcança o nível silábico evoluído, ela passa a representar a sílaba com a vogal ou a consoante que aparece na sílaba. Por exemplo: a palavra boneca poderá ser escrita como BNC ou OEA. Isso ocorre porque o indivíduo passa a representar partes sonoras estáveis das sílabas. O aluno tenta corresponder um fonema a cada grafema (som da fala a cada letra escrita). A utilização dos símbolos gráficos é aleatória e nem sempre a representação dos fonemas corresponde a escrita convencional. Para o sujeito passar deste nível para o próximo, é imprescindível que ele descubra a construção da sílaba. Isso será possibilitado através de jogos, manuseio com alfabeto móvel. Ao colocar uma consoante e ao seu lado as vogais, o sujeito descobrirá a família silábica e transporá este conhecimento para as demais consoantes.
Nível silábico-alfabético: é um estágio entre a correspondência silábica e a alfabética. A escolha das letras pode seguir um critério fonético ou ortográfico. Nesta fase o indivíduo evolui para uma representação mais completa dos sons das palavras. É comum neste nível que na representação gráfica faltem algumas letras, o que leva alguns profissionais a confundirem nível de evolução da escrita com dificuldade de aprendizagem. A escrita pode representar algumas sílabas com características do nível silábico e outras, do nível alfabético. A palavra boneca, por exemplo, pode ser escrita como: BNCAOE ou BNEC ou BONCA.
Nível alfabético: Ao chegar neste nível, pode-se considerar que o aluno atingiu a compreensão do sistema de representação da linguagem escrita, compreendendo que a sílaba pode ser desmembrada em letras e que é necessária a análise fonética das palavras para escrevê-la. O sujeito consegue compreender que uma sílaba pode ser formada por uma, duas ou três letras. No entanto pode escrever sem demonstrar o uso correto da grafia. Neste nível o indivíduo faz a correspondência da grafia com fonemas (unidades sonoras da língua) que favorece a diferenciação das palavras pelos sons (fonemas) e sinais gráficos da língua (grafemas). Portanto, ele é capaz de fazer a correspondência entre elementos sonoros e a grafia. Nesta fase o aluno ainda não é ortográfico, ou seja, ele ainda não escreve conforme os padrões da norma culta, seguindo as regras ortográficas. A ortografia é adquirida com a prática da leitura e escrita. Esse nível consiste ainda em uma escrita bastante fonética, pois a tendência do sujeito é escrever exatamente o que ouve, por exemplo: FOLIA (folha), CRIÃOÇAS (crianças).
As contribuições de Ferreiro foram fundamentais para a prática durante o período de estágio, pois foi possível compreender o que estava acontecendo com cada alfabetizando, em que nível o mesmo se encontrava e, ao mesmo tempo em que era diagnosticado o nível de escrita, era possível intervir melhor nesse processo, pois existem mediações do professor, atividades que para um aluno pré-silábico, às vezes são significativas mas para um aluno silábico ou alfabético, já não são. Diagnosticar o nível em que se encontra cada aluno, é condição indispensável para o sucesso do processo de alfabetização, pois, ao identificar a etapa em que se encontra o aluno, o educador tem condições de selecionar estratégias e metodologias eficientes e adequadas para cada nível. Considerar as hipóteses que os alunos elaboram sobre o processo da escrita auxilia muito. Saber como esse aluno vem construindo o seu processo de aprendizagem, no tocante à alfabetização, nos aponta caminhos para que possamos intervir de forma mais significativa.

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